A consciência da reciclagem, aliada à vida muito rápida e agitada que temos nos dias de hoje, nos levam muitas vezes a optar pela utilização de produtos descartáveis. Esses produtos são adquiridos em grandes quantidades a preços muito baratos e após sua utilização o usuário pode simplesmente jogá-lo fora. A grande polêmica é o acúmulo de lixo causado por esses produtos mas, sua utilização implica na economia de água e detergentes, o que leva a uma menor degradação do meio-ambiente já que, alguns produtos descartáveis são perfeitamente reciclados.
Ué!? Mas esperem um momento: falei de pessoas recicladas? Isso mesmo! Esse é um produto muito antigo, ou melhor: a existência da pessoa humana é muito antiga porém, a sua exposição como produto é um fenômeno muito forte do século XX e que já faz parte natural da sociedade do século XXI. Mas acho que o melhor termo para expressar a minha idéia seria o de "pessoas descartáveis".
Isso é verdade. Um objeto descartável passa pelo seguinte processo:
- O usuário obtém facilmente o produto;
- Utilização rápida e eficaz;
- Satisfação do usuário ao alcançar seu objetivo;
- Deposição do produto (em outras palavras: JOGAR NO LIXO!).
Quando novamente me instalei no Brasil, depois da minha longa andança pelo mundo, pude observar este fenômeno da reciclagem das pessoas mais de perto, ou melhor, pude observar o fenômeno do homem-descartável. Essa descoberta quase científica aconteceu num sábado à noite quando fui a uma boate. Era uma grande casa! Lá encontramos muitas pessoas bonitas, muitas feias, ricas e pobres, magras, gordas, homens e mulheres que ao forte som de uma banda de rock, se divertiam, pulavam e bebiam em meio ao cheiro de cigarro, chutando copos descartáveis e garrafas de cerveja que se encontravam espalhadas por todo o chão.
Nesta grande casa pude encontrar muitas espécies de homens-descartáveis. Era até engraçado observar a existência do grupo dos caçadores, o grupo das presas, os machos e fêmeas dominantes, as presas indomáveis ao lado de outras fêmeas e o ritual do acasalamento que naturalmente sucedia. Era quase um programa do "Animal Planet" ao vivo.
E dentro deste ambiente pude presenciar o ser humano passando por mais de cinco vezes seguidas pelo seguinte processo onde:
- O usuário obtinha facilmente o produto (às vezes existia um pouco de resistência mas, a diversidade de produtos em exposição era tão alta que facilmente se obtinha uma boa oferta concorrente);
- Utilização rápida e eficaz (que às vezes se prolongava dependendo da qualidade do produto obtido);
- Satisfação do usuário ao alcançar seu objetivo (que se dava em quase 100% dos casos);
- Deposição do produto (em outras palavras: JOGAR NO LIXO!);
- E finalmente a Reciclagem.
Esse é o fim dos homens-descartáveis: eram jogados no lixo. E com a mesma facilidade e frequência com que eram jogados fora, eram adquiridos por novos descartáveis. Esse processo era similar a cada vez que você bebesse água, num dia de calor, você utilizasse um copo diferente, jogando o usado fora. Constantemente, o homem-descartável era jogado fora, reciclado e utilizado novamente. É impressionante como a consciência da reciclagem e da utilização de produtos descartáveis está impregnada na juventude contemporânea.
Mas, o que o ser humano realmente deseja? Onde está o desejo de grandeza, de eternidade que está presente no coração de todo homem? Será que estamos feitos para sermos homens-descartáveis? Para onde vamos? Para onde é que você vai?
Infelizmente Albert Camus tem razão ao dizer:
"O homem é a única criatura que se recuza a ser o que é."
Comentários
Realmente "o homem é a única criatura que se recusa a ser o que é", talvez se não se recusasse, o mundo seria um lugar bem melhor de se existir ( ao menos teríamos mais autenticidade no mundo). Beijos. Shirlei Weisz
Portas mais que abertas no meu blog também! bjuss